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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Quatro palavras

Existem quatro palavras que simplesmente não me descem muito bem.

Sempre - essa palavrinha sempre (ironia do destino [ou não] ter que usá-la para descrevê-la) me deu um certo incômodo. Não que eu não acredite no "sempre" dos apaixonados, ou dos convictos, ou ainda das determinações que fazemos a nós mesmos ou aos outros. Mas "sempre" dá sensação (falsa?) de  continuidade, de estabilidade. Não creio em estabilidade. um emprego nunca é estável, um relacionamento também não, uma amizade então nem se fala. Tudo na vida, assim como na enunciação, é único e irrepetível. Não fazemos sempre a mesma coisa, mesmo que a repitamos mil vezes. Cada eu/tu - aqui - agora é singular.

Nunca - Do mesmo modo que sempre me irrita por sua descrição exata e perpétua do mundo, "nunca" permanece sob o mesmo estatuto sob minha ótica. Nada entra no rótulo do "nunca". Vocês talvez (certamente?) já ouviram a expressão [Nunca diga nunca]. Ela cabe muito bem aqui. Será que alguma coisa na vida "nunca" acontece? Bom, talvez eu "nunca" me case com um príncipe britânico, talvez "nunca" publique um livro ou talvez, ainda, "nunca" plante uma árvore (pena!). Mas e daí? Será que o "nunca" na verdade não conforma-se ao nosso mundo, as nossas possibilidades? Do mesmo modo que essas coisas talvez nunca aconteçam na minha vida, talvez eu nunca veja um golfinho jogando futebol. Estranha comparação? Nem tanto, pois nunca veremos algo que não pertence àquela realidade!

Depois - Embora eu mesma use muito essa palavra, ela também me causa um certo estranhamento. Quem nunca deixou uma coisa para depois? "Depois" me dá sensação de distanciamento, de prorrogação. Não sei até que ponto gosto de prorrogar coisas. Isso se deva talvez ao fato de eu não saber exatamente até que momento viverei. Como posso ficar me dando ao luxo de deixar tudo pra depois? Se tiver vontade, faço agora, ou não faço a vontade e deixo passar. Não gosto de viver "depois", gosto de viver agora!

Talvez - Mais que a sensação de adiamento, me irrita mais a incerteza e, talvez, por isso deixei-a para o fim. Não posso [simplesmente não posso, mesmo!] viver sobre a corda bamba. Não gosto de incerteza! Não saber as coisas me deixa aflita, nervosa, irritada. Me faz perde o sono! Incerteza me perturba... Gosto das coisas claras, das cartas na mesa, das palavras sinceras.

Enfim, coisas de linguísta talvez, mas essas quatro palavras me perturbam assustadoramente...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Quando não se tem nada a falar...

Muitas vezes me calo não por não ter o que falar, mas por não poder ou não querer falar.
A maioria das pessoas não está disposta a ouvir o que os outros tem a dizer e querer impor sua opinião, na grande maioria das vezes, acaba dando errado (ou não dando em nada, o que me parece pior ainda).
Resolvi abrir o bico, colocar a boca no trombone, falar mesmo sabendo que as pessoas não me escutarão.
A pior sensação que existe é ter a impressão que se está falando para o nada. Mas ainda pior que isso eu sinto quando me nego a falar o que penso.
Entre pecar por omissão e pecar por excesso prefiro ainda a segunda opção.
Melhor aquele que muito fala e muito erra, que aquele que se mantém calado, "imparcial" e fica na omissão.
Só sou alguém no mundo no momento nem que imponho meu lugar. E como fazer isso? Falando, oras!
Falar é o que nos torna humanos, singulares.
Então, dentre as opções de vida que eu tinha a fazer, dentre os modos de encarar a realidade (ou me esconder dela) preferi esse: falar o que é necessário, pois antes falar demais do que não ter o que falar.
Mais triste que a pessoa que não tem limites sobre as suas palavras é aquela que sequer tem palavras a dizer. Uma pessoa vazia, melhor seria se se calasse de vez, pois pior que viver e não trazer grandes contribuições aos mundo é simplesmente passar pela vida despreocupadamente como se viver fosse simplesmente fazer as atividades rotineiras dia após dia.
Prefiro a agonia de pensar que falei demais que a imoralidade de saber que me calei quando deveria ter "baixado o verbo".
E que me critiquem aqueles que não suportam a sinceridade, a honestidade e a cara limpa. Falo, sempre falei e seguirei falando. Pois eu me constituo na e pela linguagem, já dizia Benveniste!